DEPENDÊNCIAS
Independente de a sociedade considerar o uso de substâncias um problema moral ou
legal, quando este cria dificuldades para o usuário ou deixa de ser algo
inteiramente volitivo, torna-se preocupação para todos os profissionais de
saúde, incluindo psiquiatras.
Estima-se que entre os anos de 2005 e 2006, aproximadamente 200 milhões de
indivíduos tenham consumido drogas ilícitas, correspondendo a quase 5% da
população mundial na faixa etária entre 15 e 64 anos. Em relação às substâncias
lícitas, a situação não é menos preocupante: o consumo prejudicial de álcool é
responsável por quase 4% de todas as mortes no mundo, sendo a principal causa de
morte e invalidez nos países em desenvolvimento que apresentam baixa taxa de
mortalidade e o terceiro principal fator de risco para a saúde, após o tabaco e
a hipertensão arterial sistêmica, em países em desenvolvimento. No mundo há, por
sua vez, 1,3 bilhão de indivíduos que utilizam tabaco e essa substância responde
por 4,1% da carga global de doenças, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS).
Segundo os
dados publicados no Relatório Mundial de Drogas de 2007 da Organização das
Nações Unidas (ONU), no Brasil, o aumento do uso de cocaína, de 0,4% (em 2001)
para 0,7% (em 2005), é considerado um dado importante, assim como o aumento do
uso de maconha. A maconha foi a droga ilícita que apresentou o maior incremento
de uso nos últimos anos, tendo sua porcentagem de uso aumentada de 1%, em 2001,
para 2,6% em 2005. A ONU considera que esse aumento é um reflexo da facilidade
de obtenção da droga no país. As anfetaminas também demonstraram aumento de uso
entre a população brasileira, apresentando índices de prevalência semelhantes
aos da América do Norte e da África.
Nos últimos
20 anos, diferentes pesquisadores demonstraram um crescente consumo de todas as
drogas de abuso por parte de estudantes, no Brasil. Nos mais recentes desses
levantamentos, também ficou evidente uma tendência de o padrão de consumo das
moças se igualarem ao dos rapazes.
Conceitos
Intoxicação aguda: uma condição transitória seguindo-se a administração de uma substância psicoativa, resultando em perturbações do nível de consciência, cognição, percepção, afeto ou comportamento ou outras funções ou respostas psicofisiológicas.
Uso nocivo: um padrão de uso de substância psicoativa que está causando dano à saúde. O dano pode ser físico ou mental.
Abuso de substância: padrão mal adaptativo de uso de substância, manifestado por consequências adversas recorrentes e significativas relacionadas ao uso repetido da substância.
Dependência: um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso de uma substância ou uma classe de substâncias alcança uma prioridade muito maior para determinado indivíduo que outros comportamentos que antes tinham maior valor.
Tabaco
O cigarro e
outras formas de uso do tabaco são capazes de provocar dependência, decorrente
da ação da nicotina. De um modo geral, é possível se dizer que o início do
consumo de tabaco se dá na adolescência, por volta dos 13 aos 15 anos em 90% dos
casos. Quanto mais precoce o início, maiores serão a gravidade da dependência e
os problemas à ela associados, porém, a vulnerabilidade para a dependência não
está relacionada apenas com a idade. Estima-se que 60% daqueles que venham a
fumar por mais de seis semanas irão continuar fumando por mais 30 anos.
Dentre as
causas de morte prematura evitáveis em todo o mundo, podemos citar o tabaco como
certamente sendo uma das principais. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde, 4 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a doenças causadas
diretamente pelos derivados do cigarro, o que corresponde, em média, a 10 mil
mortes a cada dia. Porém, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se essas
pessoas pararassem de fumar. A expectativa de vida de um indivíduo que fuma é
25% menor que a de um não fumante. Entre os fumantes que já tentaram parar de
usar tabaco, cinco a sete tentativas são necessárias até se atingir o objetivo.
Álcool
As complicações relacionadas ao consumo de álcool não estã necessariamente
relacionadas ao uso crônico. Intoxicações agudas, além de trazer riscos diretos
à saúde, deixam os indivíduos mais propensos a acidentes.
A dependência
do álcool acomete de 10% a 12% da população mundial e 11,2% dos brasileiros que
vivem nas 107 maiores cidades do país, segundo levantamento domiciliar sobre o
uso de drogas. A incidência do alcoolismo é maior entre homens do que entre as
mulheres. Evidências a partir de registros populacionais mostram que qualquer
dose de bebida alcoolica, por menor que ela seja, aumenta o risco de morte entre
adolescentes e adultos jovens, numa relação dose-dependente, ou seja, com o
aumento da dose de bebida consumida, a mortalidade por todas as causas também
aumenta entre os 16 e 34 anos de idade, tanto nas mulheres, como nos homens.
Como
instrumento de triagem mais simplificado, temos o questionário CAGE, que
consiste em quatro perguntas:
1. Alguma vez
o (a) Sr.(a) sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de
beber?
2. As pessoas
o (a) aborrecem porque criticam seu modo de beber?
3. O (A)
Sr.(a) se sente culpado (a) (chateado consigo mesmo) pela maneira como costuma
beber?
4. O (A)
Sr.(a) costuma beber pela manhã para diminuir nervosismo ou ressaca?
OBS.: O
consumo de álcool é considerado de risco a partir de duas respostas afirmativas.
Neste caso, seria importante buscar auxílio especializado.
Ecstasy
O termo
ecstasy é usado para descrever diversas substâncias que compartilham estruturas
químicas e efeitos semelhantes, referindo-se mais comumente a 3,4-metilenodioximetanfetamina
(3,4-MDMA). Os efeitos psíquicos da MDMA são, sobretudo, alucinógenos e
estimulantes.
Os efeitos
neuropsiquiátricos agudos incluem alterações na percepção do tempo e na
percepção visual, com autoconfiança, empatia, diminuição da defesa e agressão
seguida de aumento da interação social.
Os efeitos a curto prazo são euforia, insônia, fadiga, humor deprimido e
diminuição da ansiedade. Outros efeitos no sistema nervoso central incluem
alterações na cognição, comportamento bizarro, psicoses e alucinações. Mudanças
na percepção e alucinações ocorrem em casos de intoxicação com altas doses (300
mg).
Os usuários do MDMA apresentam alto risco de desenvolver alterações
psicopatológicas, que são classificados como agudas (ocorrem nas primeiras 24
horas depois do uso da droga), subagudas (freqüentemente são observados 24 horas
a 1 mês depois da ingestão do MDMA) e crônicas (ocorrem após meses). As mais
freqüentes complicações agudas são insônia, flashbacks, transtornos de pânico e
psicoses. As complicações subagudas incluem depressão, náuseas, ansiedade e
irritabilidade. Transtorno de pânico, psicoses, depressão e distúrbios da
memória constituem as principais complicações crônicas. Efeitos neurológicos do
uso em curto prazo do MDMA também são descritos e incluem hemorragia
subaracnóidea, hemorragia intracranial ou infarto cerebral.
Outros efeitos adversos ocorrem após a ingestão do MDMA, como elevação da
pressão sangüínea e arritmias, náuseas, sudorese, tremores, bruxismo, trismo,
hiper-reflexia, incontinência, tensão muscular, sensação de frio e calor e
nistagmos. Dificuldades de executar tarefas mentais e físicas (70%), diminuição
do apetite (65%) e trismo (65%) constituem os efeitos adversos mais freqüentes.
Os efeitos a longo prazo constantemente aparecem após 7 a 9 semanas após o uso
crônico do MDMA e incluem anemia aplástica e alterações faciais que são
secundárias ao trismo e bruxismo (síndrome temporomandibular, erosão dental e
dor miofascial). Um dos efeitos mais marcantes da toxicidade aguda induzida pelo
uso do MDMA é a hipertermia ou síndrome da hiperpirexia, quadro clínico no qual
o usuário pode chegar à temperatura corporal maior que 43°C e que constitui uma
importante emergência médica.
Em 1985, o
MDMA tornou-se restrito nos Estados Unidos, fazendo parte da Lista I do Convênio
de Substâncias Psicotrópicas, que inclui substâncias com elevado potencial de
abuso, sem benefício terapêutico e de uso inseguro, mesmo com supervisão médica.
No Brasil é considerada substância de uso proscrito, definida pela Portaria da
Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde de número 344, de 12 de maio de
1998.
Estudos sobre
o uso do êxtase no Brasil ainda são escassos, mas alguns dados indicam que o
consumo do MDMA no país tem aumentado, considerando, por exemplo, o elevado
número de apreensões de comprimidos do êxtase, assim como a descoberta do
primeiro laboratório clandestino para a síntese do MDMA, na cidade de São Paulo.
TRATANDO A DEPENDÊNCIA
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu o craving como um desejo de repetir
a experiência dos efeitos de uma dada substância. Este desejo pode ocorrer tanto
na fase de consumo quanto no início da abstinência, ou após um longo tempo sem
utilizar a droga, costumando vir acompanhado de alterações no humor, no
comportamento e no pensamento. É imprescindível o uso de técnicas de manejo do
craving para que possa ser bem-sucedido o tratamento de dependentes químicos.
Algumas destas técnicas são:
Distração
Propõe-se que o indivíduo desloque a atenção das suas sensações e dos
pensamentos relacionados ao craving para o mundo externo (por exemplo, fazendo
alguma atividade).
Cartões de enfrentamento
São fichas portáteis com frases de impacto que servem para motivar o sujeito
para que não use drogas. Pode conter as desvantagens de usar, as vantagens em
estar em abstinência ou sentenças automotivacionais.
Relaxamento
São treinadas, na consulta, as técnicas de relaxamento, tanto por meio da
respiração quanto da distensão muscular.
Refocalização
O indivíduo deve focalizar seu pensamento em uma frase como "Pare!" ou em uma
imagem específica não compatível com o uso da droga.
Substituição por imagem negativa
O cliente deve substituir uma imagem positiva que estaria associada ao uso da
droga por outra, negativa ligada aos
prejuízos.
Substituição por imagem positiva
Deve ser feita uma visualização de si próprio como um vencedor que adquire
benefícios a partir da interrupção do uso da droga.
Ensaio por visualização
Utilizado para preparar o indivíduo para enfrentar situações de risco. O
dependente químico deve, guiado pelo terapeuta, imaginar-se em uma situação
perigosa agindo de uma forma assertiva, sem utilizar a substância, sendo
trabalhados os pensamentos e as emoções desencadeados, até que ele sinta-se
seguro para enfrentá-la.
Visualização de domínio
É utilizada quando o cliente não consegue se imaginar resistindo ao craving. Ele
é auxiliado pelo terapeuta a imaginarse vencendo a situação geradora de
ansiedade, devendo ser quem decide os rumos da ação fantasiada.
Outras estratégias, como a realização de exercícios físicos e a automassagem,têm
obtido resultados satisfatórios para a redução do craving e dos sintomas de
abstinência.
O uso de psicofármacos para o manejo do craving tem sido alvo de várias
pesquisas, no entanto, poucos agentes têm provado ser efetivos no controle do
craving, havendo limitações em seus efeitos, sendo necessário que sejam
realizadas mais pesquisas neste sentido.
Os ensaios clínicos realizados indicam que a combinação da farmacoterapia com o
tratamento psicoterápico é a terapêutica que traz os melhores resultados para os
dependentes químicos.
ENTREVISTA SOBRE ALCOOLISMO:
ENTREVISTA SOBRE DEPENDÊNCIA QUÍMICA:
LEITURA "ON-LINE" RECOMENDADA:
Entrevista concedida pelo psiquiatra
Ronaldo Laranjeira sobre dependência química:
http://drauziovarella.ig.com.br/entrevistas/dquimica.asp
Entrevista concedida pelo psiquiatra
Ronaldo Laranjeira sobre dependência ao álcool:
http://drauziovarella.ig.com.br/ponto/laranjeira_talcoolismo.asp
Entrevista concedida pelos psiquiatras
Ronaldo Laranjeira e Maurício de Souza Lima sobre alcoolismo na adolescência:
http://drauziovarella.ig.com.br/entrevistas/alcoolismoadole.asp
LEITURA IMPRESSA RECOMENDADA:
Livro: O ALCOOLISMO Autor: LARANJEIRA, RONALDO |
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Livro: DROGAS - MACONHA COCAINA E CRACK Autor: LARANJEIRA, RONALDO |
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